Outra dia o Dr. Fox postou algumas elucubrações sobre os "porques" dos mercado estar na ascenção atual. Ele falou um pouco sobre a "recompra" de ações, fenômeno que geralmente acontece quando empresas auferem lucros altos e recompram parte de seu próprio capital, o que faz inflar ainda mais os preços e os futuros dividendos, já que com menos ações, o "bolo" é dividido por um menor número de investidores.
Isso tem acontecido fortemente no mercado americano. Daniel Gross escreveu na Slate exatamente sobre esse assunto, no artigo intitulado "The Mystery of the Disappearing Stocks".
Inicialmente, Gross sustenta que o rally no mercado americano, apesar da desaceleração econômica e da derrocada do mercado imobiliário, se explica pelo nível record de recompra de ações e o fechamento do capital de algumas empresas. De forma simplificada ele faz uma comparação entre a demanda e a oferta. A recompra de ações + fechamento de capitais está diminuindo a oferta (menos ações) e aumentando a demanda (atração de novos investidores pelos níveis em que os preços estão alcançando).
Bolha no mercado de ações?
Gross não sustenta nenhuma teoria, a despeito de outros especialistas, sobre a formação de uma bolha no mercado de ações. Faz apenas um levantamento dos dados que sustentam sua afirmação sobre a causa da grande valorização dos ativos:
- Segundo a Thomson Financial o fechamentos de capital, anunciados ou concluídas, somou US$ 334.5 bilhões nesse último ano. (1)
- De acordo com a Standard Poor's, empresas membros do índice S&P500 desembolsaram US$ 325.15 bilhões para recompra de suas ações nos três primeiros tremestres de 2006 e US$ 674 bilhões desde janeiro de 2005. (1)
- Entre recompras e fechamento de capital, mais de US$ 1.1 trilhões em ações foram retiradas do mercado em menos de dois anos.
Segundo artigo na Times Online inglesa, as somas injetadas pelos fundos de Private Equity, na compra e fechamento do capital de empresas listadas em bolsa, marcou um record histórico. Foram cerca de 906 negócios com a soma de US$ 334.5 bilhões conforme citado por Gross. Esse fenômeno, segundo a revista, foi global. Cerca de 2.262 negócios foram realizados por fundos de private equity em todo mundo, atingindo a soma de US$ 563.2 bilhões.
Na Europa, segundo Greg Morcrof do EasyBourse, diversos acordos e um mega-negócio nos EUA ajudaram a levar o volume de fusões e aquisições na primeira metade do ano para o maior nível desde 2000. As fusões e aquisições na primeira metade de 2006, cresceram 36% em relação ao ano passado, para US$ 1.95 trilhões, diante do record anterior de US$ 1.89 trilhões na primeira metade de 2000. Na Europa, as aquisições e fusões subiram 73% em relação à primeira metade de 2005 para US$ 364.50 bilhões. Os negócios foram responsáveis por 40% de todas transações no primeiro semestre.
Veja que o ponto de comparação foi 2000, o ano do estouro da bolha na Nasdaq e reversão dos mercados que só se recuperaram na segunda metade de 2002. Não estou sugerindo a bolha, assim como Gross não o fez, mas é mais uma das semelhanças dos dias atuais com a época pré-estouro da bolha.
Por outro lado as ofertas públicas continuam existindo, porém em número bem menor do que o valou de recompra / fechamento de capital. O volume total de IPOs nos EUA somou US$ 36 bilhões. Um fenômeno que vem ocorrendo nos EUA é a perda de IPOs para as bolsas da Inglaterra e Hong Kong (veja o comparativo ao lado), devido principalmente aos custos e dificuldades trazidas pela lei Sarbanes-Oxley. O berço da flexibilidade sofrendo pelos entraves burocráticos?
No Brasil não tenho dados sobre as aquisições e fusões, mas de cabeça lembro de 2 grandes acontecimentos no ano:
- Vale do Rio Doce comprando a INCO e transformando o Brasil, na primeira vez na estória, um investidor líquido, isso é, o país fez mais investimentos no exterior do que recebeu durante 2006;
- Submarino se fundindo com a Americanas.com mais recentemente promovendo uma forte valorização para os acionistas do Submarino (eu me incluo nesse time! :)
O fator psicológico
As recompras e o fechamento de capital, fazem toda diferença para as ações individualmente. Investidores avaliam empresas em termos de ganhos por ação e como disse no início, quando se tem menos ações (bolo menor) o ganho por ação aumenta e consequentemente torna a empresa ainda mais atraente. Esse, enfim, é o mecanismo de sobrevivência do mercado: manter-se atraente para novos entrantes, que trazem mais capital.
Como conclui Gross ao final do artigo, esses eventos são psicologicamente positivos pois os investidores compram a ação esperando que a empresa fará novas recompras, valorizando o capital investido. Assim como fundos de private equity podem se interessar por compras ou fechamento do capital.
No final, não existe milagre. Para os níveis atuais se manterem a economia terá que continuar forte, os resultados das empresas terão que continuar crescendo e o mercado atraindo novos investidores, quer sejam inviduais, quer sejam os grandes fundos privados.
Lembrando a expansão econômica global que vivemos, vem desde o segundo semestre de 2002. Já são 9 semestres de mercado BULL !!!
Um comentário:
Oi Colacino,
Belo post. Gostei muito do material do Daniel Gross.
Vamos ver até onde segue essa onda de LBO e SBB.
[]'s
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