15 outubro 2008

Armadilhas do Dolar

Bom dia pessoal,

Já há alguns dias venho tentando digerir a informação de que algumas empresas Brasileiras sofreram fortes perdas com a recente alta do dolar.

Duas delas chamam muito a atenção, a primeira a Sadia que perdeu mais de R$ 700 milhões e a segunda a Votorantim que anunciou perdas de R$ 2 bilhões.

Vejam que elas não são casos isolados, apenas mais visíveis aos olhos da mídia, tem muitas outras empresas nessa situação.

O que estranha no caso da Sadia é que a empresa é exportadora já há tanto tempo que fica díficil imaginar que não sabe operar suas operações de hedge cambial.

No caso da Votorantim, um conglomerado desse porte não possuir mecanismos de desmontagem de operações tão gigantescas a um custo muito menor me parece quase uma piada.

A única explicação que me parece plausível e já foi amplamente aventada pela mídia, é que houve uma perda do foco no negócio, tornando o jogo cambial não mais num mecanismo de proteção, mas numa possível fonte de renda.

É aquela coisa, criança quando brinca com fogo, mesmo que por acidente, acaba colocando fogo no colchão.

[]'s

DrFox

3 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia Dr. Fox,

Há muito tempo o departamento financeiro das empresas exportadoras vem se transformando em departamentos especializados em arbitragem. Para ficar em uma operacao simples, sem utilizar derivativos, vou exemplificar como as exportadoras utilizam adiantamentos de contrato de câmbio (ACC) para fazerem carry-trade. Se vc é um exportador e recebe uma encomenda para o próximo ano, pode obter uma linha de financiamento externa (por tanto a juros internacionais!) para financiar a producao. Como o nosso governo paga juros muito mais poupudos que os internacionais e o câmbio vem se mantendo estável ou se valorizando, é extremamente lucrativo para as empresas exportadoras tomar linhas de crédito em dólares, converter o dinheiro para reais e aplicar em CDB, ao invés de usar o dinheiro na producao. Nesse caso a empresa toma emprestado a, vamos dizer, 7% a.a. e aplica o dinheiro no Brasil a 14% a.a., assumindo o risco cambial. Como o câmbio estava se valorizando, o ganho da empresa ultrapassava 7% a.a. sem nenhum capital próprio! Todo exportador que tenha condicoes de financiar a producao via capital próprio estava nessa situacao. A Sadia, Aracruz, Votorantim e muito provavelmente outras empresas usaram derivativos cambiais para alavancar ainda mais esse suposto "free-lunch", mas como todos deveriam saber, nao existe almoco grátis!

Abr.

Guilherme

DrFox disse...

Oi Guilherme,

Muito bem comentado, eu não poderia ser mais didático, aliás carry trade é tema recorrente por aqui. :)

Como trabalho com comércio exterior já tinha pensado nessa questão dos ACC's há um tempo atrás e por ter parte da receita da empresa em dólares me interessei pelo hedge há alguns anos.

Mesmo assim, o que me assustou nesses dois casos, foi o despreparo para lidar com uma alta rápida do câmbio, impossível imaginar que o setor de avaliação de risco não tenha alertado as mesas de operação dessas empresas, seja para uma securitização das arbitragens seja para um desmonte a partir de um gatilho.

[]'s

Anônimo disse...

Sobre o despreparo em lidar com a alta do dólar, acho que o problema é que depois de muito tempo de bonanca e calmaria, a aversao ao risco cai drasticamente, as pessoas acreditam que se a operacao funcionou nos últimos tempos, entao vai continuar funcionando indefinidamente... Vi pessoas teoricamente experientes ficando vendidas em volatilidade no comeco de agosto e, claro, se dando muito mal. Mas o argumento dado era que volatilidades desse nível nunca foram vistas!! Mas é aquela velha estória, quem dirigi só olhando no retrovisor acaba sempre batendo na curva no fim da reta....

ps.: hehehe, entao eu estava tentando ensinar o papa a rezar a missa :) mas tomara que minha explicacao esclareca as coisas para alguém...

Abr.

Guilherme