30 junho 2006

Porque eu acredito na queda das Bolsas

Boa tarde pessoal,

Estive tentando entender a razão para o expressivo aumento ocorrido ontem nas bolsas ao redor do mundo.

É fato, que uma análise superficial dos gráficos das principais bolsas Européias, Asiáticas e das Américas desde meados de 2002 até agora, mostra um surpreendente periodo de "bull market".

Ai surge a pergunta: "Mas como podem todas as bolsas apresentarem o mesmo comportamento por periodo tão longo?".

Corta a cena, e passamos agora a olhar para maio de 2006. A bolsa no Brasil inicia período de forte queda. Abrindo o leque, nota-se que esse efeito também ocorre nas bolsas mundo afora.

Novamente, vem a pergunta: "Mas como podem todas as bolsas apresentarem o mesmo comportamento praticamente no mesmo dia?".

Já ouvi muita gente falar que os investidores americanos não poderiam ser responsáveis por esse efeito dominó, que as bolsas mundiais eram isso e aquilo, e que não se poderia correlacionar o efeito do longo período de alta, nem o das fortes e recentes quedas, ao dinheiro americano.

Nesso ponto, eu discordo com vemência.

Desde o final da bolha das "ponto.com" (dot.com) o mercado americano passou por uma mudança na sua politica economica sem precedentes.

Na tentativa de animar a economia que apresentava sinais de estagnação, o FED fez um corte brutal nas taxas de juro, saindo de patamares da ordem de 6% a.a., para o piso de 1% a.a., na tentativa de aquecer a demanda doméstica e com isso a economia.

Para nós aqui no Brasil, esses números não parecem tão magnificos, pois estamos acostumados a juros de dois digitos mensais. Esse nosso vicio nos fez escapar um importante detalhe, que vou tentar explicar.

A Economia Americana possui alto grau de alavancagem financeira. Diferente do Brasil, os horizontes financeiros são de longo prazo, acima de 20 ou 30 anos. Portanto não é dificil entender o impacto que causa uma mudança no nível de juros de 6% para 1%.

Um dos grandes números nessa conta é o financiamento de projetos imobiliários, uma longa cadeia alimentar que atinge construção civil, industria de móveis e decoração, madeira, eletro-eletrônicos e mais uma infinidade de coisas.

Ok, então desde 2001, a Economia começou a ser inundada por uma oferta de consumo a juros baixos, o emprego estava retomando a curva ascendente, tudo parecia bem, exceto para o setor de investimentos.

Estes estavam amargando juros extremamente baixos pagos pelo Governo Federal, e consequentemente por toda a cadeia financeira, bancos, savings, mortages, etc..

Como o custo do dinheiro estava muito barato, começou a pipocar aqui e ali, a idéia de tomar o dinheiro a custo barato no mercado doméstico, pagando pouco mais do que módicos 1% anualmente e investir em mercados que apresentassem melhor nível de retorno.

Nessa mesma época o Euro começou a valorizar-se sobre o Dolar, o que colocava mais pressão ainda na idéia de expatriar os recursos para depois retorná-los a um câmbio mais favorável.

Dessa forma, a partir de 2002, o dinheiro "estrangeiro" (Americano), abundou em todos os mercados e assim iniciou-se o ciclo de alta que vimos presenciando até recentemente.

A partir do ano passado, o FED modificou sua politica de juros, iniciando a escalada paulatina que já dura 17 meses.

No inicio, esse fato não chegou a preocupar, pois o lastro financeiro das aplicações e o spread cambial eram tão elásticos, que permitiam a esse dinheiro barato continuar a farra além-mar.

Entretanto, os juros foram subindo, subindo, subindo sem nenhum sinal de parada. A alavancagem das operações já começava a sinalizar com uma bandeira amarela.

Vamos pensar numa situação mais terrena. O John Smith (Joao da Silva deles), que tinha seu salariozinho, seu empreguinho e sua familia classe média, vendo que o juros era muito baixo, resolveu que era hora de dar mais conforto a sua familia e assim, decidiu trocar a sua hipoteca de uma casinha nos suburbios de "não-sei-onde", por uma casa maior, melhor, mais confortável.

Isso era possível, pois com o juros de 1% a.a., essa nova casa, mais cara, cabia no seu orçamento.

Como a escalada dos juros, nosso querido John Smith, começou a dormir mal e agora que os juros estão retornando as patamares históricos, ele sequer dorme, e vive tendo alucinações, acordado mesmo, pressionado pela escalada das prestações e já visualizando que terá que dar adeus a sua nova situação.

Imagine agora esse efeito, multiplicado por milhões de John Smith, nas mais diversas modalidades de financiamento, tudo isso alavancado, tal como é a Economia Americana.

Some a isso, a mudança na expectativa da inflação americana e a mudança de comando do FED, mais a divulgação clara de que a politica de aumento de juros veio pra ficar, e temos pronta a bomba relógio que estourou nas bolsas mundiais. Bastou alguem correr na frente, pra ser logo seguido.

Claro que esse dinheiro todo, foi repatriado com populdos lucros, e só retornou para cobrir as posições "vendidas" dos private equities e assim parar a sangria dentro de casa.

Imagino que por enquanto, os baixos volumes e baixa liquidez, estarão rondando as bolsas, seja aqui no Brasil, nas bolsas Européias ou nas bolsas Asiáticas.

E até que surja algum fato novo, devemos amargar períodos de fortes correções nos ativos de bolsa, que seguindo os preceitos fundamentalistas irá encontrar suporte nos valores intrinsicos das empresas. Hoje, com rarissimas excessões estão todas superavaliadas.

Concluíndo, são essas as minhas razões para acreditar que o mercado daqui pra frente é "bear".

Quem quiser ganhar dinheiro agora, vai ter que aprender a lidar com os movimentos decorrentes dessa nova tendência, principalmente os repiques, como esse observado nos últimos três dias.

[]'s

DrFox

4 comentários:

Anônimo disse...

FOX, É O FARRADE. CONCORDO CONTIGO. ESTAMOS ENTRANDO NO PERIODO DE VACAS MAGRAS. COMO SE DIZ NO MERCADO "DEPOIS DO PORRE A RESSACA". ENFIM... VIVEMOS 2003, 2004 E 2005 COM GANHOS ASTRONOMICOS E QUEM GANHOU GANHOU MUUUUITO. AGORA É UTILIZAR STOPS CURTOS E FAZER SUAS APOSTAS LEVANDO EM CONTA AS ALTAS E AS BAIXAS. ABRAÇO.

Anônimo disse...

Perfeito Fox. Soma-se a tudo, ou melhor, resalta-se o problema do câmbio, algo super complicado, mas, que pode acelerar uma possivel queda, visto que uma perspectiva de alta incentiva a retirada de dólares, que estimula uma alta, que incentiva uma maior retirada, ....

Ábaco

Anônimo disse...

Acha que segunda sera um dia de grandes realizações?
e voltando a baixa novamente

DrFox disse...

Oi Adriano,

Muito dificil dizer. O que eu posso dizer e acho que expressei no artigo é que estamos entrando num períod de baixa, que acredito será prolongado.

[]´s